A língua é uma forma de linguagem, de comunicação que utiliza palavras.
Pela extensão e diversificação do nosso país, com estados ricos e pobres, grandes e pequenos, com pessoas vivendo em localidades de diferentes situações sociais, é natural que a nossa língua sofra variações, a que chamamos de variações linguísticas. Essas variações também podem ser decorrentes de outras causas como a idade ou profissão.
A língua oficial do nosso país é o português, mas não a empregamos exatamente da mesma maneira que outros povos que também falam português – como Portugal, Angola e Moçambique.
Variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta em razão das condições sociais, culturais e regionais nas quais é utilizada.
Veja o texto abaixo e observe a diferença entre o falar do Brasil e o de Portugal.
A diferença tratada com humor
(A respeito da publicação de Schifaizfavoire – dicionário de Português, de Mário Prata)
(...) Os leitores daqui encontrarão nos verbetes desse irreverente dicionário explicações para os eventuais atritos entre um país que ficou rico e outro que só empobreceu. E terão, enfim, algum motivo para se divertir com isso. A seguir, veja alguns exemplos práticos:
- Autoclismo – Imagine que você está num banheiro de restaurante, e o cartaz lhe diz, à entrada: por favor, não esqueça de carregar no autoclismo da retrete. Pode ser traumatizante. O que ele quer dizer é para você dar a descarga.
- Ascensor – Claro que é o nosso elevador! Os prédios em Portugal geralmente são baixos e não havia muitos elevadores no país. Agora estão fazendo grandes prédios, grandes shoppings, todos com modernos elevadores.
- Miúdos – São os garotos pequenos, antes da adolescência. Depois que crescem um pouco mais, são chamados de putos. Até hoje ninguém conseguiu me explicar o momento exato em que um miúdo vira puto. Ou seja, todo miúdo é puto, mas nem todo puto é miúdo. Ficou claro?
- Monstros – A Câmara Municipal de Cascais mandou um comunicado a todos os seus perplexo moradores: “é proibido, sem previamente o solicitar os serviços e obter vonfirmação de que se realiza a sua remoção, colocar monstros ou resíduos de cortes de jardins em qualquer local do município”. Monstros nada mais é do que entulhos.
Antigamente havia expressões populares muito usadas, e que hoje caiu em desuso. Leia a crônica a seguir escrita por Carlos Drummond de Andrade.
Antigamente (II)
ANTIGAMENTE, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais, e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo-d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de treteiro de topete: depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. O diacho eram os filhos da Candinha: quem somava a candongas acabava na rua da amargura, lá encontrando, encafifada, muita gente na embira, que não tinha nem para matar o bicho; por exemplo, o mão de defunto.
Bom era ter as costas quentes, dar as cartas com a faca e o queijo na mão; melhor ainda, ter uma caixinha de pós de perlimpimpim, pois isso evitava de levar a lata, ficar na pindaíba ou espichar a canela antes que Deus fosse servido. Qualquer um acabava enjerizado se lhe chegavam a urtiga no nariz, ou se o faziam de gato-sapato. Mas que regalo, receber de graça, no dia-de-reis, um capado! Ganhar vidro de cheiro marca barbante, isso não: a mocinha dava o cavaco. Às vezes, sem tir-te nem guar-te, aparecia o doutor pomada, todo cheio de nove horas. (...)
Em compensação, viver não era sangria desatada, e até o Chico vir de baixo vosmecê podia provar uma abrideira que era o suco, ficando na chuva mesmo com bom tempo. Não sendo pexote, e soltando arame, que vida supimpa a do degas! Macacos me mordam se estou pregando peta. E os tipos que havia: o pau-para-toda-obra, o vira-casaca (este cuspia no prato em que comera), o testa-de-ferro, o sabe-com-quem-está falando, o sangue-de-barata, o Dr. Fiado que morreu ontem, o zé-povinho, o biltre, o peralvilho, o salta-pocinhas, o alferes, a polaca, o passador de nota falsa, o mequetrefe, o safardana, o maria-vai-com-as-outras... Depois de mil peripécias, assim ou assado, todo mundo acabava mesmo batendo com o rabo na cerca, ou, simplesmente, a bota, sem saber como descalçá-la.
Mas até aí morreu Neves, e não foi no Dia de São Nunca de Tarde: foi vítima de pertinaz enfermidade que zombou de todos os recursos da ciência, e acreditam que a família nem sequer botou fumo no chapéu?
Mas até aí morreu Neves, e não foi no Dia de São Nunca de Tarde: foi vítima de pertinaz enfermidade que zombou de todos os recursos da ciência, e acreditam que a família nem sequer botou fumo no chapéu?
Língua padrão, norma culta ou variedade padrão é a variedade linguística de maior prestígio social.
CANÇÃO DO EXÍLIO
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(...)
Língua não padrão é o conjunto de todas as variedades linguísticas diferentes da língua padrão.
ASA BRANCA
Luiz Gonzaga
Quando oiei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu,ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus óio
Se espanhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Qual a fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu,ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus óio
Se espanhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Todas as variedades da língua têm seu valor e recursos suficientes para desempenhar sua função de comunicação entre as pessoas. No entanto, algumas são menos valorizadas que as outras.
A partir do momento em que se elege uma forma de se expressar como padrão, as pessoas mais desinformadas e preconceituosas começam a considerar as demais variedades como “erradas”, e não apenas diferentes.
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